01 fevereiro, 2007

Nós


nascemos no mesmo dia e temos vinte e oito anos de diferença.

Hoje tenho trinte e um anos e tu tens três anos. Dizes três, com as mãos levantas seis dedos, três em cada e dizes: é muitoossssssss. Mas são poucos. Digo-te que tenho tinta e um e fecho e abro as mãos dez vezes, três vezes, e no fim deixo um dedo e tu dizes:"são mutosssssssss". É já foram menos. Mas quero que sejam muitos mais, afinal fazermos anos no mesmo dia tem o seu encanto.

Nascemos no mesmo dia, vinte e quatro de Janeiro, eu em mil nocecentos e setenta e seis e tu em dois mil e quatro. Somos de séculos diferentes. Mas afinal descobri que só sou deste século, acho mesmo que só nasci realmente às seis e cinquenta e oito quando te vi. Eras tão grande e tão pequeno. Tinha tantos medos e tu também devias tê-los. Tinha só medo por ti. Queria que nascesses bem. Continuo a querer, muito, que estejas bem, aliás isso é mesmo o que eu quero que sejas feliz. Acho que és, muito. Dou por mim muitas vezes a olhar para ti, já menino, a pensar que não é possível caber mais amor por ti dentro de mim. Mas é. É tanto, mas tanto e vai sempre caber mais um bocadinho de ti cá dentro de mim.