02 setembro, 2005

Já cá está(mos)


Como prometido, não chorei, não choramos.
Fui levá-lo sozinha, porque o R. estava em cima da hora. Culpa do que ontem nos trocou as voltas. Tinham-me dito para não ser eu a levá-lo.
-O quê?!Que disparate!!!
-É melhor não vir pois se ele a sentir ansiosa pode chorar.
-Ansiosa, eu? Chorar, ele?!
-Doçurinha, disse o R., é claro que és ansiosa.
Fiquei a pensar. Sei que sou, mas também sei controlar-me, dominar as minhas emoções. Aprendi, à custa de situações indesejáveis, a temperar a minha impulsividade e a dominar as minhas vontades. Afinal as coisas más ajudaram-me mais do que poderia imaginar.
Quando lá cheguei a educadora não estava. Estava uma das auxiliares. Perguntei-lhe o nome. Lurdes. Era o nome da minha querida avó, da minha segunda mãe, que já morreu. Só podia ser bom sinal.
Depois das formalidades com a Lurdes (ao som de uma menina que chorava, desde o primeiro dia já lá vai um ano, disse-me) pedi ao D. para dar um abraço e um beijinho à Lurdes, ele deu. Ela deu-lhe a mão e levou-o para ver um brummmm. Ele foi e eu também. Desci as escadas apressadamente, fiz por não sentir nada, não o ouvi chamar por mim e nem ia se ele me chamasse, acho eu, ainda bem que não chamou.
Vim a casa e fui a correr, ao som da rádio marginal, para o colégio. Não era uma reunião era uma conferência, uma acção de formação, subordinada ao tema: "Determinantes científicas e pedagógicas de um projecto educativo" ou antes "Lugar do aluno no âmbito da nova corrente da eduação" dinamizada pelo Dr. José Marques, professor na Universidade do Minho. Falou desde as nove em ponto até perto da uma da tarde, apenas com um intervalo de 15 minutos. Foi interessante, mas muito longo. No meio das pedagogias ouvi ao longe um mamã, mamãaaa. Senti no meu coração que o D. chamou por mim. Não me concentrei em mais nada, senão no relógio, queria ir buscá-lo.
Fui buscá-lo eram quase duas horas, quando subi as escadas lá estava o D. sereno e sorridente ao colo de uma auxiliar, que sem me deixar dizer fosse o que fosse, perguntou:
-Este menino não dorme ao colo?!
-Não, nem ao meu. Nunca dormiu. Só na caminha dele.Chamou por mim?
-Só uma vez, disse.
Tinha a certeza, eu ouvi-o lá longe.
Passado um pouco, lá perguntei:
-Então D. não dás um abraço à mamã?
-Mamãaaaaaa.
Fiquei a saber que papou tudo, quer a meio da manhã quer ao almoço. Fez questão de conhecer os cantos à casa, teve sorte, estavam poucos meninos. Largou charme e beijinhos por todas as funcionáriase e até dançou. Sentiu-se em casa. Eu também senti que ia fazer parte daquela família. Escolhi bem, tal como esta menina me disse, o meu coração talvez tenha sabido escolher. A seu tempo confirmarei.
Um dia não são dias. Ânimos à parte, fui falar com a cordenadora, que disse que se na segunda-feira ele reagisse da mesma forma, como tudo indica, estava integrado para o resto do ano. Vai correr bem na segunda, este é o meu pensamento para o fim-de-semana.
Agora está a dormir com o seu .
Somos felizes. Temos que ser.